A Cidade e as Pessoas

Há sempre uma velhinha que vive no último andar dos prédios vazios da cidade.

No último tramo da escada, os vasos com plantas espalham-se pelo patamar, sobem bancos de madeira e convivem com as bacias coloridas que apanham os pingos da chuva e da roupa a secar. Porque ao cimo da escada, por baixo dos vidros partidos da clarabóia, a velhinha que vive no último andar criou uma teia de cordas onde pendura as toalhas e os  lençóis brancos, pintados de todas as cores pelos vitrais.

Para além da teia, a velhinha instalou também uma corda que liga a porta da rua a um pequeno sino, que toca quando alguém a vem visitar.

Amarrada ao corrimão, há uma outra corda, que abre a cancela improvisada no último tramo da escada, para deixar as visitas passar.

Outra corda ainda, segura um balde com comida que todos os dias desce da varanda até ao logradouro, onde vivem os gatos.

Um dia, sem a velhinha, a casa ficará sem vida… Marioneta parada, esquecida, sem mãos para a manipular.

plugins premium WordPress