A cidade estendia-se sobre a colina, descendo em cascata até ao rio.
A rua, estreita e sinuosa, era ladeada por muros. Pequenas folhas verdes cresciam nas juntas das pedras de granito encaixadas umas sobre as outras. Depois, a rua transformava-se em escada, também estreita e sinuosa, com centenas de degraus de uma só pedra, que nos levavam colina abaixo, ora escondendo, ora oferecendo a vista sobre o casario.
Nos patamares da rua-escada abriam-se as portas das casas das pessoas que sempre ali tinham vivido. Eram rectângulos coloridos rasgados na pedra, outrora pintada, mas que agora estava à vista, fazendo com que as casas parecessem grutas escavadas dentro da própria colina.
Lado a lado com a grandeza da vista sobre o rio, estava a pequenez daquela que parecia ser a porta mais pequena da cidade. E que abria para uma casa que era sem dúvida a casa mais pequena da cidade.
A dona da casa-gruta mostrava-a com humildade, passando com três passos da salinha repleta de bibelots e retratos de família, para a cozinha, que era do tamanho de uma mesa. Era daí, que saía a escadinha para o vão do telhado onde estava o quarto.
“_Foi o meu marido que fez isto tudo. É pequenina, mas é arrumadinha. Foi aqui que criámos o nosso filho e hei-de aqui ficar até morrer.”
Sorria, e os seus olhos brilhavam de orgulho enquanto subia os degraus e apontava, ao fundo do espaço de tecto inclinado, a vista sobre o rio.