A cidade e o Campo

– O prédio está praticamente vendido (são uns senhores de Lisboa), mas se a menina quiser ver eu mostro-lhe. As áreas, o preço, isso é tudo com o meu filho, ele é que está a tratar dessas coisas, das medidas e assim.

– Ó Pedro, toma aqui conta da loja!

– Eu estou aqui há quarenta anos. Foi o meu patrão que me vendeu o prédio. Ele tinha filhos, mas queria que fosse p’ra mim. Disse-me isso uma semana antes de morrer, veio à loja visitar-me, de ambulância! Depois de ele morrer os filhos não queriam, mas lá acabaram por aceitar. Mas paguei bom dinheiro por ele, na altura! É claro que se tivesse sido com ele tinha sido mais barato… Enfim, foi assim. Mas venha, venha!

– São bonitos, os azulejos, são. Isto é muito antigo, no outro dia uma Srª arquitecta disse que tinha p’ra mais de 100 anos! Mas quem vai comprar diz que isto não se aproveita…

Está a ver, menina? Aqui é o campo! Tem muito sol. Plantava aqui de tudo: couves, batatas, tudo. Depois, quando decidimos vender, desleixei… Mas venha ver, venha aqui, está a ver? Está a ver aqui os morangos, ainda?

Agora, já tenho outra loja, é noutra rua, lá mais p’ra cima. Só vou sentir falta é do campo…

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