Chegam à cidade de madrugada, em carrinhas velhas, carregadas.
Alinham-se nos passeios iluminados pelo sol do meio-dia, sentados no chão e nas soleiras das portas. Escrevem no telemóvel. Fumam cigarros. Olham as raparigas, as pessoas bem vestidas que passam apressadas a caminho dos escritórios.
Uns, de olhar cansado, trabalham há já demasiados anos, a pele morena vincada, as mãos secas e calejadas. Outros, fugidios, parecem ainda demasiado novos para trabalhar.
Outros ainda, equilibram-se nos andaimes com a naturalidade dos gatos. Orgulhosos e musculados – as tatuagens escondidas por baixo da roupa suja de tinta, são como jovens semideuses disfarçados – atlantes fugazes, nas fachadas em reabilitação da cidade.
Todos dão o pulso ao cumprimentar, para não sujar a “menina”, “engenheira”, “arquitecta”, “doutora”.
Ao fim do dia, nas carrinhas ainda mais velhas, carregadas, todos deixam a cidade, onde nunca vão morar.