A Cidade e os Sons

Perdidos no meio da horta de um gigante, estão treze bonecos com cara de riso. Foi a filha do gigante que os colocou em tempos na alameda dos nabos, sentados lado a lado em pequeninas bancadas, como se aguardassem um desfile que por lá ía passar. Depois esqueceu-se deles e ali ficaram, abandonados ao sol, ao vento e à chuva, rindo, caindo pelos degraus.
Todos os dias a filha do gigante se entretém a distribuir os seus brinquedos pelo grande jardim de sua casa, posicionando-os cuidadosamente ao longo dos canteiros, no centro dos relvados ou das clareiras: uma boneca já sem roupa, timidamente sentada em cima de um lego;  um soldadinho de chumbo montando guarda, com o seu capacete redondo e a sua espingarda; um homem, num cavalo equilibrado em três patas, segurando um papel na mão; quatro leões com asas dentro de uma tigela de água; um boneco com um lagarto morto na cabeça, que a faz dar sempre uma gargalhada.
Mas o brinquedo de que a filha do gigante mais gosta, é a torre de pedra que roubou do velho tabuleiro de xadrez do Pai. Colocou-a junto à horta, num sítio bem alto e passa  horas deitada na relva a olhar para ela. Observa muito atentamente cada medalhão, cada estátua, cada janela, cada pináculo, cada concha, cada grinalda, cada balaustrada. E diverte-se a ver as formigas que, de manhã à noite, por ela sobem e descem, atarefadas.
No dia em que completou seis anos, o Pai fez-lhe uma surpresa. Às nove da manhã, a menina acordou com o som alegre de minúsculos sinos que faziam vibrar as plantas do jardim. Quando se levantou, descobriu que a torre de pedra, que tanto adorava, era agora uma caixinha de música  que tocava uma linda canção inventada pelo Pai especialmente para si.
A filha do gigante gostou tanto da sua prendinha que, desde então, todos os dias – ao início da manhã, a meio do dia e ao fim da tarde – se ouvem os sinos da torre a tocar.

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