A cidade e os Sons

É de manhã cedo no jardim.

Sobre o silêncio do granito, ouve-se ao longe o som contínuo dos carros que trazem e levam pessoas para dentro e fora da cidade. É um som paisagem, como o do mar e sobre o manto longínquo do mar, ouve-se um avião a cruzar o céu.

O jardim é o centro de vários círculos, cada um povoado por um som diferente.

Num dos círculos distantes, ouvem-se os gritos tribais das gaivotas que voam sobre os telhados. Num círculo mais próximo, o som de fado num rádio, a lembrar outra cidade. Mais próximo ainda, o martelar constante do vizinho no prédio ao lado. No tecto acústico de uma árvore, junto à casa, o canto fino de um pássaro.

Na nitidez do ar matutino, ouve-se o tilintar delicado do espanta espíritos, a desenhar a porta para o jardim.

Antigamente, no centro do jardim, havia um poço que as obras taparam. Hoje de manhã, é a canção dessa água que ouço em mim.

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