Passeias de manhã cedo pela cidade e perguntas-te de onde virá o cantar dos galos que ecoa pelas ruas e praças que percorres.
Aqui, a vegetação não abunda, é raro cruzares-te sequer com uma árvore nos passeios de pedra por onde passas. A solidez do granito prende-te ao chão como um íman e reflecte os sons de uma natureza secreta que escapa ao teu olhar.
Caminhas pelas ruas, bordeadas por casas estreitas e altas com fachadas de azulejo, ritmicamente escavadas por portas e janelas rectangulares, onde se cravam minúsculas varandas de ferro trabalhado. A aridez cinzenta do granito estende-se por toda a rua, sobe por trás dos azulejos, reaparece emoldurando as janelas e suportando o peso dos beirais – e isso é tudo o que vês.
Mas, se fosses gaivota, saberias que por trás das casas é como se de uma cidade-jardim se tratasse. Elevando-te acima dos telhados, verias que todas as casas têm varandas que se abrem, generosas, para um luxuriante verde contínuo de árvores, relvados, hortas e flores, onde turistas mergulham em espelhos de água, velhos habitantes trabalham longos rectângulos de terra, amigos fazem churrascos e crianças brincam, descalças, correndo atrás dos galos. Então, perceberias.